quinta-feira, 21 de março de 2013

Há urgência em estar vivo!

Quarta-feira de manhã.
Uma manhã fria e chuvosa que me fez levantar com a maior má vontade possível... Mas Ok, vamos lá!
Calça, blusa, tênis, jaleco, caneta, prancheta, estetoscópio! Ufa! To pronta!
Depois de rodar algumas quadras procurando vaga, até que finalmente minha amiga estacionou na calçada de uma construção, enlameamos nossos pés rumo ao majestoso Hospital Regional.
Um andar acima, encontramos nosso simpático e exigente professor, que ordenou que nos dividíssemos e elaborássemos uma Anamnese. Rodamos um pouco para lá e para cá pela enfermaria e finalmente decidimos: Vamos à Pneumo! E lá fomos... Encontramos um senhor, quase caricato, em posição fetal, enrolado em sua manta. Nos disse que estava tudo bem responder algumas perguntas, mesmo tendo respondido monossilabicamente e ter qualquer quadro de confusão mental (que descobrimos só depois de conferirmos o prontuário dele, que ele não estava lá há 2 dias, como havia dito, mas há mais de 8). Mas tudo isso foi apenas para estabelecer uma noção cotidiana.
Depois de acompanhar nosso professor-médico em todas as suas visitas, ele mencionou qualquer coisa sobre ver algum paciente que tinha algo interessante. Foi inevitável, me empolguei, mesmo sabendo que era às custas do sofrimento alheio. O que é natural, porque quanto mais virmos, mais aprendemos... Ainda assim não deixa de brutal.
Entramos no quarto, e lá estava ele, um bonito rapaz de 20 anos, sentado no leito, assistindo televisão, sorridente, ainda que um pouco constrangido, e em Bom Estado Geral (BEG).
Um colega nos apresentou o caso. O rapaz, simpático o bastante para conversar, mesmo estando um pouco  "de saco cheio", nos mostrou o que o tornava tão interessante a todos os estudantes: Um nódulo supra-clavicular, rígido, com pouca mobilidade e sem sinais flogísticos. Todos empolgados, palpamos o nódulo do pobre rapaz.
Palpações feitas, resolvemos dar um certo espaço ao moço.
Um tempo depois, o médico-professor chegou e nos chamou para ver os exames de imagem no corredor do hospital... Enquanto nos mostrava as tomografias, raios-x e afins, percebemos o quão grave o quadro do bonito, simpático e em B.E.G. garoto, se tornava... Ele teve em derrame pleural em ambos os lados, seu pulmão esquerdo se reduzira significativamente e apresentava áreas de necrose. Seu coração estava envolto por uma massa tumoral, sua traquéia, que deve estar centralizada, estava completamente desviada para a direita. O laudo da radiologia deu as hipóteses diagnósticas: linfoma e teratoma.
Era nítido em nossas faces, uma expressão mórbida. O garoto foi praticamente sentenciado à morte. Quais são as chances de ele sobreviver? Poucas. O Gianecchini sobreviveu a um linfoma. Foi lindo! Mas quanto dinheiro ele tinha na sua conta bancária?!
Saímos de lá, pelo menos alguns, um tanto quanto abalados e eu sequer consigo escrever muito mais sobre isso, porque dizer o quanto a vida é frágil seria "chover no molhado", mas fica a dica:
Há urgência em estar vivo!

segunda-feira, 18 de março de 2013

Ei! Você está bem?


Não me sinto bem. Não me sinto mal. Não me sinto!
Estou esgotada. Cansada de ser pilar indestrutível para todos ao meu redor, aquele que se mantém em pé quando todos caem. Cansei de ser forte, cansei de ser inabalável.
Preciso de energia, preciso de mais momentos de descontração, preciso fazer barulho, seja em um piano, em um surdo, em uma bateria inteira ou com a minha voz... Talvez até bater panelas ajude, mas eu tenho vizinhos... Não importa, o que eu preciso mesmo é me resolver. Sair da confusão mental em que me meti. Por que decidir é tão difícil? Por que eu não posso ser uma pessoa bem resolvida com as coisas e fazer o que acho certo sem ter medo? 
Também não ajudaria... Eu sequer sei o que é certo, ainda estou me decidindo... Me decidindo... Me decidindo... Looping infinito.
Mas eu e essa minha mania besta de me preocupar com os outros, mesmo sabendo que é recíproco em uma porcentagem muito pequena.
Quero gritar, mas não posso. Quero chorar, mas não consigo. Quero me curar, mas tenho AIDS. Quero morrer, mas só por uns dias.
O artista se sai bem melhor, quando está bem pior. Mas eu não sou artista. Não sou Byronista, nem da nova geração do Blues. Dizer que não sou viciada é exagero, sou viciada em muitas coisas, assim como todos. O que importa é que não vivo disso, não vou ganhar aplausos pela minha angústia. E nem quero.
A verdade é que passei tanto tempo fazendo cosplay de rocha, que não sei mais ser HUMANA. Passei tanto tempo renegando minhas variações hormonais e meu sentimentos que, agora que preciso senti-los, sequer os reconheço. Não consigo me livrar do que sinto, porque não consigo sentir, mas sei que está aqui em algum lugar, porque mesmo sem doer lateja... Pulsa... Bombeia... Bate! TUM TÁ...
To viva! Acho.
Agora só me resta juntar meus pedaços espalhados pelo caminho de tijolos dourados. Só o silêncio pode me ajudar a ouvir minhas bulhas. Quem sabe se eu sair correndo, a minha pressão suba o suficiente e eu possa sentir ao invés de ouvir... Péssima idéia.
Já cheguei à conclusão de que sentir não é exatamente o meu forte. E mais pressão? Não, obrigada!
Se bem que, talvez, um diagnóstico trágico seja minha melhor esperança de tratamento: Ruptura de aneurisma de Aorta Abdominal. Porque afinal, pressão só adianta, se te faz estourar. Aí pronto! Espirra sangue por todos os lados. É aquela correria da qual todos saem manchados de vermelho... Vermelho sangue... Vermelho VIVO!
Acho que estou chegando em algum lugar.
Eu já apanhei do mundo e sofri de auto-piedade. Doía demais, então parei.
Depois aprendi  ser portadora de CIPA, mas estou aprendendo que é perigoso demais.
Alcancei os dois extremos, então talvez, agora eu aprenda a andar na corda bamba, chamada equilíbrio. É hora de entrar no casulo novamete.
Metamorfose ambulante.