segunda-feira, 25 de novembro de 2013

No precipício

Já era quase uma da manhã, esfriara bastante depois do sono dos justos, como ela costumava dizer. Um cigarro, um café e uma ciatalgia, das horas e horas dispensadas na cadeira desconfortável em frente ao computador.
— Eu não devia fazer isso. Eu não devia mesmo.
— O que?
— Me perder.
— Mas você sempre foi perdida. Se perder, no seu caso, seria se achar.
— Não seja tolo! Não estou falando da bebida, do cigarro, nem da erva ou meu caos pessoal. To falando de me perder em alguém.
— Oh! — Ele disse, lançando aquele olhar cheio de significado, que ela tanto odiava.
— O que? Que foi, agora? — Perguntou, ríspida. Bufando, eu diria
— Nada...
— Não me irrita, ok? Eu estou à beira de uma crise, sentada no precipício. Na berada do poço cheio de merda que eu mesma caguei!
— Meu deus! Quanto drama!
— É sério, ok? Se você puder me segurar, eu agradeço. — Disse, com um certo tom de desespero — De que adianta ter um terapêuta particular, se ele trata sua insanidade como drama?!
— Tá, tá... Calma! — Exclamou, pegando uma caneta e um bloco de notas.
— Você tá de brincadeira com a minha cara, né? — Gritou, impaciente.
— Você acabou de pedir por uma sessão de terapia!
— E você sabe que não foi isso que eu quis dizer! — Interrompeu
— Foi sim. Foi exatamente isso. — Disse ele, sereno. — Você não precisa que eu seja seu amigo e diga uma série de baboseiras do tipo “você é como é e é isso que importa” ou “tudo vai dar certo”. Você odeia esse tipo de coisa.
Ela se recostou na cadeira, acendeu um cigarro e ficou com aquele olhar vago de quem tem tantos pensamentos turbilhonando, que não consegue externar sequer um.
— Caminhe para a luz, Miss Bagunça. — Ele disse, estalando os dedos.
— Muito profissional, você! — Reclamou, indignada.
— Não seja rude, eu te amo. — Falou com um tom terno — Agora me deixa te segurar. Comece me falando sobre “se perder em outra pessoa”.
Ela se perdeu nos pensamentos, novamente.
Ele já vira aquele olhar um milhão de vezes, mas não se cansava dele, ainda mais quando era acompanhado de um sorriso bobo, como agora.
“Se perder não pode ser uma coisa boa, sabe. Mas, incrivelmente é tudo o que as pessoas querem: achar alguém para se perder.
Mas eu não. Eu sei o que acontece depois, eu sei o quanto sou desprezível. Sei que tudo desmorona no final e a tendência é que eu me estabaque no chão, levando para casa, cerca de cento e cinquenta fraturas expostas que levarão mais um bom tempo de internação, requererão repouso e têm péssimo prognóstico.
São muitos calos ósseos, sabe. Quanto mais você tem, mais difícil é quebrá-los de novo. Mas eu não.
Ah, eu sou mestre na arte de me fuder e fuder as pessoas ao meu redor. Você é meu irmão, sabe muito bem disso.
Onde eu estava? Ah! Se perder... Desculpa, me perdi.
Se perder em alguém é pular do precipício. Poucas pessoas valem a pena e eu confesso que achei que não encontraria mais nenhuma... Até encontrar.
Um amor sereno, sim. Nada flamejante, como costuma ser.
Ah, cara! “Eu sou tão madura, tão racional... Tão sem graça.”
Gosto mesmo é da queda, de sentir meus cabelos voarem, o vento me abraçar e a sensação de que aquilo é a última coisa que eu vou fazer. Cada milésimo de segundo dura uma eternidade e o coração (inconsequente, ele), recebe o mais puro sopro de vida, vindo da descarga infindável de adrenalina, que faz ele pulsar forte e rápido, como alguém que grita suas últimas palavras: TUM-TÁ!
Não se pode estar mais vivo que isso. Turbilhona sangue por todo o seu corpo, você se sente pegando fogo, quente, vivo!
... E aí depois morre.”
— Tô te achando bem viva.
— Shh! Não me interrompe. Estou construindo algo aqui.
— Vejamos.
“... E morre. Tá morto. Mortinho. Apático, insosso, cinzento, desiludido e crente de que a vida é melhor assim. Tá tudo certo no país do eletrocardiograma horizontal. A vida é uma maravilha em tons de cinza — Por favor, não me interrompa para falar daquele livro nauseante — Mas o Universo é uma coisa engraçada, que quer ser notada e, (in)felizmente, me notou.
Eu estava lá, quietinha no meu caixão, cultivando amizades não-saudáveis e conversas corriqueiras, como sempre fiz e... BAM!”
— BAM?
— É.
— Como BAM?
— Olha, eu sei que eu roubei uma parte do Q.I. que deveria ir para você, mas você precisava ter cultivado o pouco que sobrou, sabe.
— Apedreja esta mão vil que te afaga! — Disse ele, dramatizando a cena. — Fale sobre o BAM.
Ela abriu uma garrafa de vodka e jogou um pouco no copo.

— Não posso, to caindo.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Solidão e cigarros;

Me afundo em cigarros na solidão do meu apartamento. O vento sopra gelado, arrepiando minhas pernas despidas, gelando meus pés... De repente, percebo que a solidão não está no lugar. A solidão me acompanha, aonde quer que eu vá, ora como uma velha amiga, que há tempos não encontrava, ora como aquele parente inconveniente que te invade a casa nos momentos mais inoportunos.
A solidão me ronda, me atinge, me deprime, mas me embebeda, me arranca sorrisos e até mesmo gargalhadas. Pego em sua mão. 
Caminhamos juntas pela rua deserta em direção ao horizonte, sem hora marcada para a despedida. O horizonte pode estar mais próximo do que parece... Ou mais longe do que eu jamais desejei.
Não sei se nada disso importa, nem sei se quero saber.
Dias atrás, me peguei buscando respostas sobre o futro... Foi quando ouvi aquela voz suave que vem de dentro, e dizia mais ou menos assim: “Amanda, mesmo com todos os truques e todos os dons, não se pode prever o futuro, porque ele muda a cada segundo. E quão chato seria se você soubesse? Ah! Se eu bem te conheço, você morreria de tédio!”
É, eu me conheço bem. Mas quem precisa de companhia, com uma mente tão auuto-suficiente quanto essa? Haha

Sigo aprendendo a desfrutar da minha companhia, pondo a casa em ordem, as idéias no lugar... Que lugar, Amanda?! Você não tem um só parafuso no lugar! Hahaha

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Ainda é cedo.

“Falamos o que não devia nunca ser dito por ninguém.”




Eu abri a garrafa como se a tivesse encontrado no meio do deserto. Era uma miragem? Poderia ter sido.  Aquilo tudo, bem que podia não passar de um sonho trágico. 
Olhei meu braço. Ainda estava roxo. Cada vez mais escuro... Era real.
Me perguntei mais uma vez o que me deu na cabeça quando saí de casa como um cão raivoso.  E eu poderia até pregar aquele discurso de “eu não sou disso”, mas eu sou bem disso. Não foi a primeira vez, e com certeza, não será a última.

Eu sempre bebo, e isso me acalma. Mas eu não bebi. Eu não dei sequer um trago no cigarro!
Marchei em direção à casa dele e entrei ruidosamente pela porta, como se tivesse um mandato. Ele se assustou, acho que ficou esperando a voz de prisão. Foi até engraçado.
Eu pude ver várias luzes se acendendo pela vizinhança, enquanto eu berrava dentro do trailler.Eu berro, tu, eu já não sei, mas ele berrava bastante também. Não deu explicações, não pediu desculpas, só fazia arremessar na minha cara tudo o que eu havia feito errado em toda a minha vida.


— Como se você fosse santa! Já bebeu quanto hoje? Quantos maços já fumou? Você pensa que eu não conheço sua história? Acha que eu não soube de todas as malditas vezes em que você não dormiu sozinha? Eu sempre soube! Cada vez que eu entrava naquele bar, eu torcia, eu quase rezava para que, só por hoje, ninguém viesse me falar de você, contar algo. Não foi um amigo só que eu perdi por sua causa! Por sair no braço, depois d’ele me contar uma história sua, que eu sabia que era verdade! Agora você mexe esse seu rabo, da sua casa, até aqui, desce o pé na porta, acorda a porra do bairro inteiro, para me cobrar algo? Eu já aturei muita coisa sua, porque sei que isso tudo é culpa do seu pai blá-blá-blá-blá... 

Foi assim que eu ouvi. Ele teve a coragem de falar do meu pai!
(Meu pai era o alcoólatra que eu mais amava no Universo. Isso basta.)
Eu não sei bem quanto tempo se passou, mas quando me dei conta, o vinil do Black Sabbath já estava partido em dois e voando, sem escalaS, para a cara dele. Ele não desviou, ele nem piscou. Deixou que as duas metades daquilo que fora seu maior tesouro o atingissem em cheio.
 Saiu um pouco de sangue, quando um dos pedaços pontiagudos provocou um pequeno corte.

Tão rápido que eu quase nem vi, ele veio até mim, O meu braço agora estava sendo esmigalhado em suas mãos, e ele me olhava tão de perto e tão intensamente, que eu tive medo. Ainda assim, mergulhei naquele olhar... Havia fogo.
Por um instante, eu pensei que ele ia me matar.  Mas quando eu menos esperava, ele aproximou lentamente seus lábios dos meus... Quanto mais me beijava, mais forte o apertão que dava em meu braço ficava... O resto é previsível.

Olho mais uma vez para trás. Ele ainda está na cama... Me olhando e sorrindo gentilmente, enquanto eu acabo com a garrafa de whisky que lhe dei de aniversário.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Vesgo do diabo;

Ela acordou, mais uma vez, sem ter idéia de que horas eram, mas não se preocupou o seuficiente para levantar da cama. Ficou lá deitada, pensando nos caminhos incertos que ela estava tomando.
Só foi capaz de sair de seu  labirinto de pensamentos quando seu corpo pediu algo: nicotina!
Uma pé na frente do outro. Ainda um pouco embreagada de sono, foi até a sala, abriu a porta e se sentou em frente ao computador. Ela esperava algo. Caralho! Era o último cigarro!
Fatalmente, ela teria que sair do seu mundo e mergulhar raso no mundo físico, e cigarros eram o melhor motivo que se poderia haver! Então ela vestiu a primeira roupa que encontrou jogada pelo chão do quarto e foi... Foi... Mas não foi. Nunca tinha ido! Seus pensamentos eram a armadilha mais traiçoeira. Uma espiadinha só, e de repente estava amarrada dos pés à cabeça!
Vá com calma, criança! Ninguém vai muito longe assim. A cabeça não aguenta.
— Será que eu quero aguentar? — Deu um sorriso de canto de boca.
— Se você tentasse fugir da sua mente com o empenho que foge dos assuntos sérios, talvez conseguisse...
— Você está ficando senil, sabia? Como eu poderia fugir de mim?! — Disse, deixando bem claro quão pouco sentido fazia para ela.
— Não adianta você sair andando... Eu posso estar “senil”, mas ainda posso andar!
— Eu não quero ouvir! Estou cansada disso! Já não me basta toda a bagunça da minha vida? Só o que me faltava era um velho louco, me dando conselhos sem sentido, no meio da rua!
— Pode esperniar o quanto quiser! Eu não vou deixar você cair. — Falou, afetusamente.
— Vesgo do diabo. — Afirmou, enquanto parava no meio da rua e olhava para ele.
Ele franziu as sobrancelhas, procurando o sentido do que acabara de ouvir. Depois sorriu, deixando claro que compreendera.
— Não há como cair, se você está preso... — Explicou, com aquele tom sábio que só os velhos conseguem dar às frases.
— Exatamente!
— Se já sabe em que está, já sabe como se livrar! — Provocou.
— Luz...
Ela começou a entender o que ele queria...
— Luz! Você encontrou a solução, querida! — Disse, tão pacificamente quanto poderia, antes de se virar e sair.
— Espera! Porra! É só isso? Você vem, joga o maior papo... Diz “luz” e vai embora? Que diabos, quer dizer “luz” nessa metáfora?
Ele não estava mais lá... Ele nunca esteve.
— Tenho certeza que vai descobrir!
Ela virou-se, para procurá-lo. Foi quando notou que as pessoas que estavam paradas a alguns metros dali direcionavam-lhe olhares assustados e confusos.
— Velho filho da puta! — Ela xingou baixinho, antes de pôr o capuz da blusa e sair andando como se nada tivesse acontecido, com um sorriso na boca...
Cigarros! Ela se lembrou o que fora fazer...

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Seja feliz como nunca se permitiu;

Erramos. Sim... Erramos muito! Mas o que resta é o aprendizado, e a descoberta de que não fomos feitos um para o outro. Se é que isso existe!
Por mais que tudo parecesse às mil maravilhas para quem estava de fora, só nós sabíamos o que acontecia, realmente na nossa vida. Toda a falta de paciência e o excesso de brigas sem sentido das quais você vivia jogando a culpa em mim.
Talvez a culpa fosse mesmo minha... Mas ninguém briga sozinho, meu bem. A culpa é nossa! Para não dizer que a culpa não é de ninguém, porque não existe culpa em sermos quem somos.
O tempo passou e deixou cada vez mais claro para nós, o quão incompatíveis nós éramos. Demoramos para ver... Demoramos até demais!
O que fica, para mim é o sentimento de dever cumprido; a raiva passageira, que é comum em separações, proveniente da explosão de tudo que foi implodido por muito tempo; o respeito por algumas qualidades ímpares; e o orgulho de ter feito parte do caminho que você está construindo.
Sou um desses pássaros silvestres... Acontece que a gaiola acabou sendo sedutora, então entrei por algum tempo, e quando me dei conta, estava presa.
Foi demais para mim. Não sei viver assim... Aprendi.
Acho mesmo é que você merece coisa bem diferente de mim, um canário, como você.
Fica aqui o meu muito obrigada, pelas experiências, pelo aprendizado e pelos momentos felizes e minhas mais sinceras desculpas pelas grosserias e coisas do tipo.
Só quero dizer que não lamento por ter acabado. Eu lamento por termos sido infelizes pelo tempo que fomos, com medo do fim, nos agarrando a algo que deixara de existir.

Não se perca... De novo.
Eu estarei torcendo por você. Seja feliz! Mas de verdade... Nem tudo que parece felicidade, realmente é. Nem todas as festas são legais e nem todos os sorrisos são verdadeiros.
Seja feliz como nunca se permitiu!


Afetuosamente, Amanda.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Anjos e Demônios

Terno, gravata e sapatos velhos. Este era o uniforme diário de Arthur, um fumante inveterado, mau-humorado e viciado em cafeína, que passava seus dias megulhado em uma pilha de papéis embaralhados e bagunçados na sala 20 da repartição pública. Formou-se em direito, para despeito de seu pai, que sonhava vê-lo engenheiro. As pessoas ainda se perguntam se sua escolha foi por gosto, ou simplesmente para contrariar. Arthur nunca soube ser simpático, andava pelos corredores do prédio, onde encontrava diversas pessoas, mas em quinze anos de profissão, nunca retribuira, sequer um “bom dia”, que atualmente, só recebia dos recém-chegados, que nunca tiveram nenhum dos costumeiros encontros desagradáveis com ele, a quem se podia chamar de workaholic. Sim, Arthur traballhava dia e noite naquela maldita sala, como se fosse sair de lá com a cura do câncer. Ninguém, jamais ousava cruzar o seu caminho em dia de tribunal, havia um burburinho na repartição sobre isso. Arthur dividia opiniões no ambiente de trabalho. Aqueles pobres que já o trombaram em dia de audiência diziam, com uma certeza assustadora, ter visto a face do demônio, com narinas dilatadas e cenho franzido, pisando rudemente, com a determinação de quem pretendia destruir o assoalho. A datilógrafa, que acompanhava todas as audiências, descrevendo cuidadosamente tudo o que acontecia, costumava chamá-lo de Miguel Arcanjo, pois vira inúmeras vezes seu desempenho simplesmente magnífico perante o júri, resultado de todas as malditas horas enfurnado naquela sala mofada. Quantas pessoas Arthur já ajudara? Ela perdeu as contas há muito tempo. Por que um advogado exímio, extremamente brilhante, se sujeitava a uma vida medíocre, solitária e com salário de defensor público? Ela sabia o porquê. Sempre pôde ver o brillho que surgia em seus olhos, instantaneamente, quando ganhava uma causa perdida para um pobre coitado, que lutava contra algum general de dez estrelas...

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Aos meus maiores amores.

Dizem que a melhor coisa do mundo é ser amado. Eu discordo. A melhor coisa é amar!
Receber um ombro amigo não tem preço, mas ter pessoas queridas o suficiente para que você sinta vontade de oferecê-lo é muito melhor. São essas pessoas que te movem, que te dão vontade de continuar, dia após dia, mesmo que as coisas não estejam dando tão certo assim.
Não há coisa melhor no mundo do que ter pessoas por quem você suportaria e, por vezes suporta e supera todos os problemas.
Tenho pena de quem não sabe o que é estar com todos os problemas do mundo, mas se esquece, sem pensar duas vezes de todos eles, porque alguém que ama não está muito bem. Porque essa pessoa não sabe o que é se doar ou talvez não tenha na vida dela, pessoas incríveis e extremamente queridas como eu tenho.
Tanta coisa mudando, tanta coisa se passando na minha cabeça caótica, um ser inteiro para reconstruir...
- Vem cá amigo, senta aqui. O que está acontecendo?
Ouvir tudo com a maior atenção do mundo, se colocar no lugar, por mais difícil que seja, para dar os melhores conselhos que eu puder extrair do meu ser... Nem sempre é fácil. Eu não sei lidar com todas as situações, nem da minha própria vida! Ah, mas talvez eu soubesse, se me esforçasse tanto quanto me esforço para eles.
Ás vezes tudo o que você precisa é calar. Ouvir.
Uma das principais regras é nunca dizer: "Não chore!" 
Ás vezes, tudo o que precisamos é chorar e não há nenhuma ofensa em ver lágrimas caindo. Elas são feitas para isso.
- Chore o quanto for necessário. Só quero que saiba que no final das contas, quando as suas lágrimas cessarem, eu estarei bem aqui!
Um abraço apertado, daqueles que só quem te ama de verdade é capaz de te dar. Não há algo que represente melhor o que ambos sentem: confiança, cumplicidade, amor...
Obrigada a todos vocês por serem tão queridos, porque são vocês que me fazem levantar da cama todos os dias e ir à luta. Meus maiores amores, meus amigos de verdade.
O homem não vive porque é amado, vive porque tem pessoas a quem pode amar!

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Cerca viva!


“Mundo, mundo, vasto mundo... Se eu me chamasse Raimundo, seria uma rima, não uma solução.”

E foda-se a métrica, não é, nem de longe, o que realmente importa.
Sabe quando você está crescendo e formulando a sua noção de mundo? Isso deve levar no mínimo dez longos e produtivos anos de descobrimento do mundo afora e do mundo adentro(!) formando a sua personalidade e aprendendo como lidar com as situações corriqueiras e episódicas da vida.
Pois bem, tente fazer isso pela terceira vez(!) aos 21 anos... Não é fácil, meu bem. Tolice sua achar que os ladrilhos novos se encaixariam perfeitamente aos antigos sem que fosse necessário quebrar algumas pontas de uns ou outros. Seria mais fácil trocar tudo de uma vez! Mas quem abriria mão de tantas experiências, de tantas conclusões trabalhosas, que levaram anos e anos de reflexão sobre certas coisas? Abrir mão de “meio-eu” já é bastante complicado, que dirá de todo o eu!
E eu sigo aprendendo... Aos poucos me encontro, parte cá, parte lá, entre roupas jogadas no chão do quarto, velhos livros guardados no armário e conversas-fiadas em mesas de bar.
Alguns chamam de "Distúrbio de Personalidade", eu chamo de "Evolução": O que já não me serve vai embora!
Afinal, a vida é feita disso: mudanças, adaptações. A diferença é que as pessoas, em geral, vão se modificando tão vagarosamente que sequer se dão conta, e eu sou mais adepta das mudanças bruscas. Descompressão brusca dolorosa! Essa é a minha praia... Não perco tempo esperando os muros ruírem, boto logo eles abaixo e começo a construir novos... Acontece que não é tão fácil, nem tão rápido, mas uma hora eu chego lá... Destrui as placas de concreto e o novo material já foi escolhido: Cerca viva!
Viva!

quinta-feira, 21 de março de 2013

Há urgência em estar vivo!

Quarta-feira de manhã.
Uma manhã fria e chuvosa que me fez levantar com a maior má vontade possível... Mas Ok, vamos lá!
Calça, blusa, tênis, jaleco, caneta, prancheta, estetoscópio! Ufa! To pronta!
Depois de rodar algumas quadras procurando vaga, até que finalmente minha amiga estacionou na calçada de uma construção, enlameamos nossos pés rumo ao majestoso Hospital Regional.
Um andar acima, encontramos nosso simpático e exigente professor, que ordenou que nos dividíssemos e elaborássemos uma Anamnese. Rodamos um pouco para lá e para cá pela enfermaria e finalmente decidimos: Vamos à Pneumo! E lá fomos... Encontramos um senhor, quase caricato, em posição fetal, enrolado em sua manta. Nos disse que estava tudo bem responder algumas perguntas, mesmo tendo respondido monossilabicamente e ter qualquer quadro de confusão mental (que descobrimos só depois de conferirmos o prontuário dele, que ele não estava lá há 2 dias, como havia dito, mas há mais de 8). Mas tudo isso foi apenas para estabelecer uma noção cotidiana.
Depois de acompanhar nosso professor-médico em todas as suas visitas, ele mencionou qualquer coisa sobre ver algum paciente que tinha algo interessante. Foi inevitável, me empolguei, mesmo sabendo que era às custas do sofrimento alheio. O que é natural, porque quanto mais virmos, mais aprendemos... Ainda assim não deixa de brutal.
Entramos no quarto, e lá estava ele, um bonito rapaz de 20 anos, sentado no leito, assistindo televisão, sorridente, ainda que um pouco constrangido, e em Bom Estado Geral (BEG).
Um colega nos apresentou o caso. O rapaz, simpático o bastante para conversar, mesmo estando um pouco  "de saco cheio", nos mostrou o que o tornava tão interessante a todos os estudantes: Um nódulo supra-clavicular, rígido, com pouca mobilidade e sem sinais flogísticos. Todos empolgados, palpamos o nódulo do pobre rapaz.
Palpações feitas, resolvemos dar um certo espaço ao moço.
Um tempo depois, o médico-professor chegou e nos chamou para ver os exames de imagem no corredor do hospital... Enquanto nos mostrava as tomografias, raios-x e afins, percebemos o quão grave o quadro do bonito, simpático e em B.E.G. garoto, se tornava... Ele teve em derrame pleural em ambos os lados, seu pulmão esquerdo se reduzira significativamente e apresentava áreas de necrose. Seu coração estava envolto por uma massa tumoral, sua traquéia, que deve estar centralizada, estava completamente desviada para a direita. O laudo da radiologia deu as hipóteses diagnósticas: linfoma e teratoma.
Era nítido em nossas faces, uma expressão mórbida. O garoto foi praticamente sentenciado à morte. Quais são as chances de ele sobreviver? Poucas. O Gianecchini sobreviveu a um linfoma. Foi lindo! Mas quanto dinheiro ele tinha na sua conta bancária?!
Saímos de lá, pelo menos alguns, um tanto quanto abalados e eu sequer consigo escrever muito mais sobre isso, porque dizer o quanto a vida é frágil seria "chover no molhado", mas fica a dica:
Há urgência em estar vivo!

segunda-feira, 18 de março de 2013

Ei! Você está bem?


Não me sinto bem. Não me sinto mal. Não me sinto!
Estou esgotada. Cansada de ser pilar indestrutível para todos ao meu redor, aquele que se mantém em pé quando todos caem. Cansei de ser forte, cansei de ser inabalável.
Preciso de energia, preciso de mais momentos de descontração, preciso fazer barulho, seja em um piano, em um surdo, em uma bateria inteira ou com a minha voz... Talvez até bater panelas ajude, mas eu tenho vizinhos... Não importa, o que eu preciso mesmo é me resolver. Sair da confusão mental em que me meti. Por que decidir é tão difícil? Por que eu não posso ser uma pessoa bem resolvida com as coisas e fazer o que acho certo sem ter medo? 
Também não ajudaria... Eu sequer sei o que é certo, ainda estou me decidindo... Me decidindo... Me decidindo... Looping infinito.
Mas eu e essa minha mania besta de me preocupar com os outros, mesmo sabendo que é recíproco em uma porcentagem muito pequena.
Quero gritar, mas não posso. Quero chorar, mas não consigo. Quero me curar, mas tenho AIDS. Quero morrer, mas só por uns dias.
O artista se sai bem melhor, quando está bem pior. Mas eu não sou artista. Não sou Byronista, nem da nova geração do Blues. Dizer que não sou viciada é exagero, sou viciada em muitas coisas, assim como todos. O que importa é que não vivo disso, não vou ganhar aplausos pela minha angústia. E nem quero.
A verdade é que passei tanto tempo fazendo cosplay de rocha, que não sei mais ser HUMANA. Passei tanto tempo renegando minhas variações hormonais e meu sentimentos que, agora que preciso senti-los, sequer os reconheço. Não consigo me livrar do que sinto, porque não consigo sentir, mas sei que está aqui em algum lugar, porque mesmo sem doer lateja... Pulsa... Bombeia... Bate! TUM TÁ...
To viva! Acho.
Agora só me resta juntar meus pedaços espalhados pelo caminho de tijolos dourados. Só o silêncio pode me ajudar a ouvir minhas bulhas. Quem sabe se eu sair correndo, a minha pressão suba o suficiente e eu possa sentir ao invés de ouvir... Péssima idéia.
Já cheguei à conclusão de que sentir não é exatamente o meu forte. E mais pressão? Não, obrigada!
Se bem que, talvez, um diagnóstico trágico seja minha melhor esperança de tratamento: Ruptura de aneurisma de Aorta Abdominal. Porque afinal, pressão só adianta, se te faz estourar. Aí pronto! Espirra sangue por todos os lados. É aquela correria da qual todos saem manchados de vermelho... Vermelho sangue... Vermelho VIVO!
Acho que estou chegando em algum lugar.
Eu já apanhei do mundo e sofri de auto-piedade. Doía demais, então parei.
Depois aprendi  ser portadora de CIPA, mas estou aprendendo que é perigoso demais.
Alcancei os dois extremos, então talvez, agora eu aprenda a andar na corda bamba, chamada equilíbrio. É hora de entrar no casulo novamete.
Metamorfose ambulante.