Ela acordou,
mais uma vez, sem ter idéia de que horas eram, mas não se preocupou o
seuficiente para levantar da cama. Ficou lá deitada, pensando nos caminhos
incertos que ela estava tomando.
Só foi capaz de
sair de seu labirinto de pensamentos
quando seu corpo pediu algo: nicotina!
Uma pé na frente
do outro. Ainda um pouco embreagada de sono, foi até a sala, abriu a porta e se
sentou em frente ao computador. Ela esperava algo. Caralho! Era o último
cigarro!
Fatalmente, ela
teria que sair do seu mundo e mergulhar raso no mundo físico, e cigarros eram o
melhor motivo que se poderia haver! Então ela vestiu a primeira roupa que
encontrou jogada pelo chão do quarto e foi... Foi... Mas não foi. Nunca tinha
ido! Seus pensamentos eram a armadilha mais traiçoeira. Uma espiadinha só, e de
repente estava amarrada dos pés à cabeça!
— Vá com calma, criança!
Ninguém vai muito longe assim. A cabeça não aguenta.
— Será que eu quero aguentar? — Deu um sorriso de canto de boca.
— Se você tentasse fugir da sua mente com o empenho que foge dos
assuntos sérios, talvez conseguisse...
— Você está ficando senil, sabia? Como eu poderia fugir de mim?! —
Disse, deixando bem claro quão pouco sentido fazia para ela.
— Não adianta você sair andando... Eu posso estar “senil”, mas ainda
posso andar!
— Eu não quero ouvir! Estou cansada disso! Já não me basta toda a bagunça
da minha vida? Só o que me faltava era um velho louco, me dando conselhos sem
sentido, no meio da rua!
— Pode esperniar o quanto quiser! Eu não vou deixar você cair. — Falou,
afetusamente.
— Vesgo do diabo. — Afirmou, enquanto parava no meio da rua e olhava
para ele.
Ele franziu as sobrancelhas, procurando o sentido do que acabara de
ouvir. Depois sorriu, deixando claro que compreendera.
— Não há como cair, se você está preso... — Explicou, com aquele tom
sábio que só os velhos conseguem dar às frases.
— Exatamente!
— Se já sabe em que está, já sabe como se livrar! — Provocou.
— Luz...
Ela começou a entender o que ele queria...
— Luz! Você encontrou a solução, querida! — Disse, tão pacificamente
quanto poderia, antes de se virar e sair.
— Espera! Porra! É só isso? Você vem, joga o maior papo... Diz “luz” e
vai embora? Que diabos, quer dizer “luz” nessa metáfora?
Ele não estava mais lá... Ele nunca esteve.
— Tenho certeza que vai descobrir!
Ela virou-se, para procurá-lo. Foi quando notou que as pessoas que
estavam paradas a alguns metros dali direcionavam-lhe olhares assustados e
confusos.
— Velho filho da puta! — Ela xingou baixinho, antes de pôr o capuz da
blusa e sair andando como se nada tivesse acontecido, com um sorriso na boca...
Cigarros! Ela se lembrou o que fora fazer...