quinta-feira, 24 de abril de 2014

Esquizofrenia.

Os joelhos doem.
As coisas já não são mais tão fáceis, a empolgação se foi, me deixando a sós com as dúvidas e o desgosto. A revolta causada por tantos motivos inomináveis e concretizados alimenta meus monstros pessoais, que se tornaram mais eu do que eu própria. Me abraçam, me apertam e me sufocam numa tentativa desesperada de alcançar a vida, que foi dada a mim, não a eles. Lá no fundo, escondida, há uma pequena chama, um pequeno pedacinho de eu que ainda crepita, resiste, aquece... Ilumina.
As crepitações são gritos surdos como os de um prisioneiro em uma masmorra que tenta mostrar a alguém, ao mundo, talvez a si mesmo que ainda está vivo, não foi vencido.
Começa a ficar difícil respirar.
Não respirar é como sentir um pedacinho da morte. Os pulmões, cansados, já não são como antes... Os velhos pulmões de vinte e dois anos deterioram-se cada vez mais na minha tentativa falha de preencher o vazio com fumaça.
Os olhos, às vezes, amarelam-se.
Sempre mantenho uma garrafa por perto, pois se nada der certo, a anestesia está acessível. Uns dias são mais difíceis que os outros, ainda que todos eles sejam, em seu específico grau, insuportáveis... Invivíveis.
Sinto meu fígado pedindo socorro, esmagado por coleções gordurosas. Esteatose é uma certeza.
Levo algumas facadas nas costas.
Filtração, reabsorção, secreção, excreção. - Falência renal - Hemodiálise.
Dos males, o menor, vez ou outra descem-me cálculos, dilacerando levemente meu uretér. A genética não ajuda. Mas a urina escurece-se notoriamente, quase alcançando a cor marrom cuja sentença é triste. Falência renal. (sigo rezando)
Estou morrendo! De novo!
De todos os órgãos, o que mais me preocupa é o coração.
Arritmia, angina, infarto, insuficiência cardíaca... Nada disso. O diagnóstico do meu coração é esquizofrenia!
Regido pela loucura, sua atividade favorita é fazer minha face entrar em contato brusco com o chão. Gosta do perigo, gosta de brincar com fogo!
Eu me queimo... Sempre. Tantas vezes que já quase não dói.
Se o coração é esquizofrênico, imagine a dimensão da insanidade da própria mente!
Entende tudo errado, entende tudo como quer, acha que todos são loucos como eu, faz tudo errado!
Primeiro quer, depois não quer, aí quer de novo. E chora, volta atrás, corre atrás, se organiza (na medida do possível), se realoca, se reanima, se transforma, se desespera... Foco!
Organiza - faz acontecer.
Acontece! Aí não quer mais... Para depois querer de novo.
Nessa dança maluca da vida, nunca perde o rebolado, menos ainda a habilidade de se transformar, jogando fora o que já não serve.
Se tem algo que eu não sei, tampouco quero é andar na corda bamba da eutimia.
Quando não há variações, altos e baixos, é porque não há vida.
Tô bem viva!

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